Alteridade: por que é importante entender o outro?
Você já parou para pensar sobre o que nos une enquanto seres humanos? Será que temos mais diferenças entre nós ou mais pontos em comum? As respostas podem variar bastante, e não há certo ou errado. De qualquer maneira, vamos pensar um pouco mais sobre um conceito conhecido como alteridade, e o que isso tem a ver com entender outro. Para isso, vamos contar com a ajuda das reflexões de um pensador importante nesse contexto: Michel de Montaigne.
A dimensão coletiva
Quando nos deparamos com grandes coletivos e culturas muito diferentes das nossas, é bem comum haver espanto, surpresa e curiosidade. Foi a partir desse espanto que o pensador Michel de Montaigne (1533-1592) refletiu sobre a “barbárie”, algo muito em voga no discurso de seus contemporâneos do século XVI. Essa era a época das grandes navegações e foi nesse período que a existência do continente americano e de seus habitantes chegou ao conhecimento dos navegadores europeus.
De muito longe, lá na França, terra natal de Montaigne, o pensador escreveu ensaios observando que não era prudente que os europeus se colocassem como “civilizados” diante dos “bárbaros” nativos da América pelo simples fato dos costumes serem diferentes. Esse entendimento, desafiador e corajoso no século XVI, foi importante porque deu origem a uma maneira relativa de olhar o outro, isto é: não deveríamos analisar com preconceitos aqueles que não compartilham os mesmos valores coletivos de nossa respectiva cultura.
Apesar de não ser sociólogo, o pensamento de Montaigne é muito importante hoje em dia para a Sociologia, uma área de estudos que analisa o comportamento do ser humano na coletividade. Já vamos descobrir como isso nos ajuda a saber o que é alteridade.
Iguais e diferentes (tudo junto)
Se por um lado a Sociologia nos mostra que há vários aspectos culturais que nos diferenciam, por outro, a Biologia nos ensina que fazemos parte da mesma espécie. Se compararmos a genética de dois Homo sapiens, a semelhança provavelmente será mais de 99%. De fato, é algo que nos torna iguais. Somos todos humanos e é isso que nos une. Nossas diferenças se baseiam em aspectos sociais. Quando nos dispomos a compreender os aspectos daquilo que nos diferencia, também nos dispomos a entender que somos incrivelmente diversos ao mesmo tempo. Nem as visões de mundo e tampouco os comportamentos são exatamente iguais. É preciso, então, suavizar nosso olhar ao que é diferente. Nesse sentido, não é possível afirmar, que um modo de ser é mais adequado do que outro… São apenas maneiras distintas de existir.
A alteridade
As contribuições filosóficas de Montaigne em relação a outras culturas podem ser consideradas como uma das primeiras reflexões sobre o que hoje se conhece como o conceito da alteridade. Ao pé da letra, alteridade significa ser do outro; relativo ao outro. Sob a ótica da Sociologia, significa olhar o outro para saber e reconhecer as diferenças. Michel de Montaigne foi um dos primeiros a conseguir relativizar o olhar ao diferente quando quebrou a noção preconceituosa que os europeus tinham dos nativos americanos. Portanto, estamos falando dos costumes, da comunicação, dos valores, da moral e da maneira de existir de cada sociedade/cultura. Quando somos capazes de reconhecer essas distinções, também suavizamos nosso entendimento. Fica mais fácil perceber que há outras formas de perceber o mundo e de se comportar nele.
Tudo isso é construído ao longo de nossas vidas, com as pessoas que estão mais próximas a nós. É assim que construímos, por exemplo, a nossa linguagem, e é através dela que desenvolvemos nosso ser em nossa cultura. Sem a comunicação é difícil imaginar como os indivíduos seriam acolhidos totalmente num contexto coletivo. Sem a comunicação, não construímos histórias, não compartilhamos vivências, alegrias, vidas… Se não comunicamos, não há comunidade, pois comunicar significa, de fato, tornar comum.
Exercitando a alteridade podemos perceber que é fundamental acolher quem não tem condições de se comunicar plenamente. É o que ocorre muitas vezes com refugiados e migrantes em vulnerabilidade. Então, pensando em atenuar esse problema aqui no Brasil, a Vila Internacional acolhe por meio do ensino gratuito da língua portuguesa. Já são quase 40 professores empenhados na mudança dessa realidade, e sempre há espaço para mais contribuições! Faça parte da nossa jornada, conheça e contribua com nossos projetos.